Neste sonho, assumo o papel de adolescente problemática, a última fase por que passei. Diferente do "eu" actual, vagueio pelos acontecimentos de rebeldia e tentativa de independência. Caminho por um corredor repleto de imagens, imagens essas memórias de um passado recente. Vou parando e analisando ao pormenor as projecções que me rodeiam: uma projecta invasão de propriedade privada, outra tráfico de substâncias ilegais...
Subitamente, páro. Fico imóvel. De todos os actos passados, aquele poderá ter sido pior.O que mais marcou e magoou aqueles que me são próximos.
Diana Rodrigues, com dezasseis anos de idade nesta altura, fugiu de casa. Não por se sentir mal com a mãe ou devido aos problemas naturais na adolescência. Não. Fugiu para encontrar a resposta à pergunta: "Quem sou?".
Naquela fase da vida, lembro-me de procurar informações, respostas à minha existência: "Quem sou?", "Quem são os meus pais biológicos?", "Porque me abandonaram?".
Pesquisei e pesquisei. Após meses de tentativas fracassadas, decidi obter o que tanto procurava pelas próprias mãos.
Nada disse à minha mãe. O meu objectivo não era magoá-la dando-lhe a sensação de querer partir. Não foi. Não é. Não será.
Saí de casa na manhã seguinte, com a indicação de que iria para a escola um pouco mais cedo. Mal sabia a mãe que me preparava para viajar em busca do desconhecido.
Somente uma mala de couro preta com riscas brancas me acompanhava naquela aventura, se é que assim pode ser designada. Cuidadosamente, fechei a porta de entrada, desci as escadas e saí do prédio.
Não pensei. Agi consoante a vontade. Vontade essa que deu origem a uma série de complicações.
Deram conta da minha ausência mais cedo do que esperava.
O resultado desta experiência também não trouxe alegrias: a polícia divulgou pelos postos do país o relatório do meu desaparecimento e, dois dias depois, encontrava-me no espaçoso quarto vermelho e preto que muito bem conhecia, sem respostas às minhas perguntas, com os meus amigos preocupados e o pior, a mãe chorava e procurava entender a minha acção.
Olhando para trás, fiz e não farei. Amadureci bastante neste último ano. Vejo-me como uma rapariga mais responsável, confiante e focada nos seus planos desde então.
E...
- Diana... Querida, não adormeças na varanda, ainda apanhas uma constipação com o frio que faz. Anda, vem para dentro e descansa. Amanhã é um novo dia para te deitares no puff a ouvir música com o volume no máximo o tempo que quiseres. Só não te queixes quando chegares à minha idade e não perceberes metade do que te dizem, embora consigas remediar um pouco o problema se...
- Sim, mãe. Já captei a ideia, não precisas de interpretar o papel de "Mãe Galinha".
- Óptimo, também não gosto muito dele.
Amo-a. Sabe sempre como retirar do meu interior um sorriso, por mais pequeno que seja.
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