sexta-feira, 2 de julho de 2010

Capítulo II - "Primeiro Sonho: Rebeldia"

Neste sonho, assumo o papel de adolescente problemática, a última fase por que passei. Diferente do "eu" actual, vagueio pelos acontecimentos de rebeldia e tentativa de independência. Caminho por um corredor repleto de imagens, imagens essas memórias de um passado recente. Vou parando e analisando ao pormenor as projecções que me rodeiam: uma projecta invasão de propriedade privada, outra tráfico de substâncias ilegais...
Subitamente, páro. Fico imóvel. De todos os actos passados, aquele poderá ter sido pior.O que mais marcou  e magoou aqueles que me são próximos.
Diana Rodrigues, com dezasseis anos de idade nesta altura, fugiu de casa. Não por se sentir mal com a mãe ou devido aos problemas naturais na adolescência. Não. Fugiu para encontrar a resposta à pergunta: "Quem sou?".
Naquela fase da vida, lembro-me de procurar informações, respostas à minha existência: "Quem sou?", "Quem são os meus pais biológicos?", "Porque me abandonaram?".
Pesquisei e pesquisei. Após meses de tentativas fracassadas, decidi obter o que tanto procurava pelas próprias mãos.
Nada disse à minha mãe. O meu objectivo não era magoá-la dando-lhe a sensação de querer partir. Não foi. Não é. Não será.
Saí de casa na manhã seguinte, com a indicação de que iria para a escola um pouco mais cedo. Mal sabia a mãe que me preparava para viajar em busca do desconhecido.
Somente uma mala de couro preta com riscas brancas me acompanhava naquela aventura, se é que assim pode ser designada. Cuidadosamente, fechei a porta de entrada, desci as escadas e saí do prédio.
Não pensei. Agi consoante a vontade. Vontade essa que deu origem a uma série de complicações.
Deram conta da minha ausência mais cedo do que esperava.
O resultado desta experiência também não trouxe alegrias: a polícia divulgou pelos postos do país o relatório do meu desaparecimento e, dois dias depois, encontrava-me no espaçoso quarto vermelho e preto que muito bem conhecia, sem respostas às minhas perguntas, com os meus amigos preocupados e o pior, a mãe chorava e procurava entender a minha acção.
Olhando para trás, fiz e não farei. Amadureci bastante neste último ano. Vejo-me como uma rapariga mais responsável, confiante e focada nos seus planos desde então.
E...
- Diana... Querida, não adormeças na varanda, ainda apanhas uma constipação com o frio que faz. Anda, vem para dentro e descansa. Amanhã é um novo dia para te deitares no puff a ouvir música com o volume no máximo o tempo que quiseres. Só não te queixes quando chegares à minha idade e não perceberes metade do que te dizem, embora consigas remediar um pouco o problema se...
- Sim, mãe. Já captei a ideia, não precisas de interpretar o papel de "Mãe Galinha".
- Óptimo, também não gosto muito dele.
Amo-a. Sabe sempre como retirar do meu interior um sorriso, por mais pequeno que seja.

quarta-feira, 30 de junho de 2010

Capítulo I - "Diana, muito prazer"

Não sou criança nem sou adulta. Não sou rica nem pobre. Tenho mãe, mas não pai. Concederam-me o privilégio da vida, mas não sei vivê-la.
Diana Rodrigues, dezassete anos e filha adoptada. Assim me apresento. A minha mãe, Sofia Rodrigues, adoptou-me ainda era eu um bébé, sujeito às dificuldades de uma infância sem pais. Não tenho forma de  expressar a minha gratidão. Cuida de mim, acolhe-me e trata-me como sendo sua filha biológica. E, fora as leis da ciência, ela é e continuará a ser minha mãe verdadeira, real. Devo-lhe tudo o que sou actualmente.
Vivemos num apartamento que posso dizer ser grande: três quartos, duas casas-de-banho, uma cozinha instalada num tema preto metalizado, um pequeno escritório e duas salas, uma das quais funciona como estúdio musical e local de descontracção. O meu quarto é o único do apartamento com varanda. A mãe fez dele meu pois pensou que gostaria de me sentir livre e de poder relaxar, quando atingisse a adolescência. Estava certa.
Todas as noites me sento no puff de algodão na varanda,  foco o olhar para as poucas estrelas que o céu revela devido aos vários factores da cidade e deixo-me levar pela música do mp4. Por vezes, adormeço. Outras simplesmente páro de pensar. No entanto, seja qual for a vontade do momento, o sonho invade-me. Sempre permito que o faça e se revele, umas vezes excitante, outras como um pesadelo. Porém, a maioria são recordações; lembranças do que tenho vivido.
É onde me encontro neste preciso momento. Sentada no puff macio, de T-shirt e calções, a ouvir música, sonhando.